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sábado, 22 de maio de 2010

O simples, o prolixo e o complicado

Certa vez, três amigos se encontraram num bar. O simples, o prolixo e o complicado.

O garçom veio para tomar nota do pedido. O simples pediu um misto quente e uma coca-cola. O prolixo, antes de fazer o seu pedido, fez um longo discurso, dizendo que o misto era uma escolha duvidosa, porque a revista American Science Troubles do mês trazia o resultado de um extenso estudo sobre aqueles pequenos queimadinhos do pão de misto quente e seus terríveis efeitos sobre a saúde, além de relatar o quanto os refrigerantes fazem mal à saúde. E continua, dizendo que o problema não é só o açúcar, mas o gás, que dá celulite nas mulheres e estufa a barriga nos homens. Após seu prólogo, passa a analisar o cardápio, produto a produto, um a um, com um breve comentário sobre cada um deles, até o seu fim. Olha para o garçom, confiante, e pede um misto quente e uma coca-cola, para acompanhar o amigo.

Daí chega a vez do complicado. Primeiro, ele enrola um pouquinho, vai ao banheiro, volta, olha o relógio, puxa o celular, escreve uma mensagem, envia, diz que já comeu algo antes de sair de casa e que não quer nada. Quando chega a comida dos colegas, belisca um pouquinho e resolve pedir algo para ele. Vem o garçom, ele pede alguma coisa diferente do que os colegas pediram, mas como não sabe exatamente o que quer, pergunta se o sujeito tem alguma sugestão. O garçom oferece umas quinze sugestões. Nenhuma ele diz nem que sim, nem que não. Os amigos já começam a ficar desconfortáveis com a situação. O garçom, com a caneta e o papel nas mãos, está desenvolvendo uma úlcera e os clientes das outras meses já perceberam faz tempo a situação. O resultado é que o complicado escolhe, escolhe, pede mais opiniões, revela que sabe o que quer, mas que não sabe explicar e pede ao garçom um sanduíche de pão com queijo na chapa e um daquele refrigerante de embalagem vermelha do cartaz.

E, assim, o simples, o complicado e o prolixo confraternizam e se divertem, cada qual com as suas diferenças e complementariedades. É claro que cada um de nós se identifica mais com algum desses tipos e tem calafrios e cinco tipos de medo quando sai com algum daqueles que pertence à outra categoria. Ainda bem que tem gente simples no mundo, porque graças aos simples, que há soluções práticas para problemas complexos. Assim como é muito bom haver pessoas prolixas, porque apenas alguém com suprema atenção aos detalhes e à história de tudo, poderia criar as pizzarias com 96 sabores à sua escolha. Mas a quem devemos realmente agradecer é ao complicado. Ele faz nós termos a sensação de ainda não ter chegado lá e de que ainda falta alguma coisa para o nosso produto ficar perfeito... e continuamos aperfeiçoando aquilo que sabemos fazer.

Um dos bons autores que tratam de coisas simples, porém não simplistas, é Eugênio Mussak, que explicou a origem da palavra simples que quer dizer "com uma dobra". Aquilo que tem mais dobras, deixa de ser simples. E nos convida para compreender o conceito: "Imagine uma folha de papel na qual está escrita uma mensagem. Quem a escreveu dobrou a folha uma única vez e a entregou para você, que em um gesto único a abre e lê seu conteúdo. Simples!"

Fernando Botto é escritor, docente, faz palestras de temas como liderança, relacionamento interpessoal, motivação, estratégia de negócios e criatividade.

domingo, 16 de maio de 2010

Brasil volta a brilhar no MMA

Depois da trajetória brilhante do lutador curitibano Wanderlei Silva, ídolo em diversos países, o MMA ou mixed martial arts se rendeu ao talento de um outro curitiba, o Maurício Shogun.

Shogun é um lutador fora de série, um legítimo outlier, como definiria Malcolm Gladwell. Dono de um estilo único e de uma frieza e tranquilidade fantásticas, Shogun venceu por KO o oponente também brasileiro Lyoto Machida, no UFC 113, evento que lhe rendeu o cinturão da categoria meio-pesado, título que coloca o Brasil no topo da dura escalada de lutadores profissionais que sonham com a fama, dinheiro e com a sensação de vitória.

Há cerca de cinco anos, atuei no Brasil com o preparo emocional de lutadores de MMA de alta performance, junto com o psicólogo Fabiano Mello. Na época, o primeiro atleta que fez um trabalho emocional muito dedicado e colheu os frutos mais rápido do que se poderia imaginar foi o André Dida. No mesmo ano em que iniciamos os trabalhos, que consistiam em uma ou duas sessões de uma hora por semana, Dida participou de um evento nacional e nocauteou em meio minuto o lutador Felipe Borges (2006) e foi aclamado como o melhor lutador do evento. Depois disso, Dida foi convidado para a sua primeira luta num grande evento internacional, na Inglaterra e se saiu muito bem. De azarão, quase venceu o K1 Heroes de 2007 e consolidou a sua carreira de lutador de alto nível.

Shogun foi o segundo atleta de nível internacional que se interessou por iniciar um trabalho emocional. Aderiu de maneira fantástica à proposta de desenvolver ainda mais a inteligência emocional que já havia lhe rendido um renomado título de vencedor do Pride, evento que acontecia no Japão e mobilizava o país. Maurício Shogun dedicou-se aos trabalhos e apresentou uma fantástica evolução, trabalho que após o meu deslocamento para atuar no exterior, foi brilhantemente desenvolvido pelo Fabiano, que passou a atuar também com o Evangelista Cyborg e com a Cris Cyborg, dentre outros.

O lado emocional dos lutadores de MMA é fundamental para os seus desempenhos. O que vence a luta é o esforço, dedicação e a técnica e o preparo emocional representa um poderoso segredo que visa garantir o rendimento do atleta nos treinos, a manter o foco e, é claro, a deflagrar os estados emocionais no momento do confronto.

Parabéns ao Shogun, que soube dar a volta por cima da derrota injusta da luta anterior contra Lyoto. Vencido por pontos, dessa vez, com o KO, não deixou dúvidas de que o lutador curitibano está de volta à forma de antes.

Fernando Botto é consultor de negócios, docente e escritor

sábado, 15 de maio de 2010

Nem o coelhinho da Páscoa se salva

Nem o coelhinho da Páscoa se salva. As antigas barrinhas de chocolate de 220g emagreceram para 200g, depois 190g, 180g e, na semana passada, comprei uma de 170g! Ora, que o chocolate engorda eu sei, mas quem devia fazer regime era eu, não a barra, certo?

A velocidade da indústria do mal é muito maior do que a do bem. Proativa, a indústria do mal é um setor muito valorizado de empresas que possuem um departamento obscuro, em que pessoas vestidas de preto sacrificam pequenos animais domésticos e bebem o seu sangue num macabro ritual cujo objetivo é responder à pergunta: como maximizar o lucro dos acionistas?

O risco do descomprometimento com a ética nos negócios é o desenvolvimento de um olhar criativo para passar a perna nos seus clientes, concorrentes e quem mais estiver pela frente. Nem tudo que é legal é ético, já dizia um brilhante jurista dos tempos de negócios feitos no fio do bigode. Hoje, as empresas estão insuflando o ego de pessoas extremamente egoístas, competitivas e confortavelmente maquiavélicas, que encontram na falha dos concorrentes um motivo para justificar a própria torpeza e de alimentar uma concorrência desleal pelo cliente, o maior de todos os prejudicados.

Mas será que existe espaço para profissionais éticos nesse mar de tubarões? Existe. Há empresas comprometidas com valores éticos que sepulcrariam de antemão toda e qualquer medida que pudesse representar a burla do cliente como diferencial para o próprio crescimento. Em outras palavras: assim como há pessoas ávidas por crescer em suas empresas, capazes das mais criativas formas de exercer a arte de puxar o saco e os tapetes, há empresas dispostas a qualquer coisa para obter alguma vantagem.

O mero poder de compra do cliente brasileiro, que já passa a adotar uma postura de valorizar empresas que respeitam o meio ambiente através da compra desses produtos é uma forma de combate a esse tipo de prática desonesta que se tornou tão habitual a ponto de hoje já haver pessoas que entendam tal prática como algo normal, próprio do mercado competitivo e, pasmem, chegam a chamar isso de criatividade.

Não existe criatividade sem ética. E o poder de escolha do consumidor na compra não basta. É preciso haver agências governamentais eficientes, que penalizem com rigor estas práticas perniciosas, assim como as universidades devem insistir em formações que direcionem os futuros executivos a encontrar meios mais criativos de enfrentar a concorrência.

Certa vez assisti a uma partida de futebol em que a violência, por miopia do árbitro, correu solta para os dois lados. Uma lástima. Futebol nota zero. No intervalo, um técnico teve a iniciativa e a sabedoria de chamar o seu colega de longa data que dirigia, naquela noite, a equipe adversária. Esclareceu que o jogo continuasse violento daquele jeito, perderíamos atletas por contusão, o que seria uma lástima para ambos, porque o campeonato ainda estava no início. Selaram um acordo de ir, cada um ao seu vestiário e de ordenar ao time que haviam feito um pacto de lealdade de apenas cometer faltas realmente necessárias.

Em que pese o risco de interpretação de cada atleta numa orientação subjetiva dessas, a essência foi assimilada por todos e o jogo terminou num formidável 3 a 3, fruto de um jogo limpo, em que até os gandulas trocaram as camisas no final do jogo em sinal de congratulação.

Mas mercado não é futebol e cliente não é torcida, é consumidor. E, como a fiscalização é reativa, lenta e muitas vezes ineficiente, nos vemos compelidos a apelar para a ética de nossos executivos para que o quadro não se agrave ainda mais e, para a nossa esperança, há muitos exemplos brasileiros de profissionais que não aceitam negociar seus valores no jogo de vale tudo que alguns insistem em jogar. Seriedade, competência e respeito ao consumidor são valores que esperamos ver, um dia quem sabe, voltar a fazer parte das atitudes do senhor coelhinho da Páscoa. Ou podemos torcer que ele peça demissão e mande o seu curriculum para a indústria de tabacos ou de bebidas alcoólicas. Aliás, não seria o máximo que os cigarros passassem a ter cada vez menos nicotina e as bebidas, cada vez menos álcool em suas garrafinhas?

Fernando Botto é consultor de negócios, palestrante, docente e escritor. Autor dos livros Alho cebola e beijo na boca (2004) e Fungos da Mongólia (2010).

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A verdadeira profilaxia contratual


Você provavelmente já negociou com pessoas desonestas e sabe como é fácil cair em armadilhas e como é difícil sair delas. A sensação do desgosto de ser enganado pode ser bem aproveitada se aprendermos a criar os anticorpos certos e utilizá-los adequadamente em cada contexto.

Certa vez, ouvi um conselho que continua sendo muito útil para quem vive esta necessidade de confiar nas pessoas para fazer bons negócios: melhor do que um contrato bem escrito é negociar com pessoas de valor. Este ensinamento nos ajuda a tomar algumas decisões, mas descobri que até mesmo pessoas de valor podem ser manipuladas por mentes perigosas e levadas a acreditar em realidades distorcidas pelas doces palavras de um bom estelionatário.

Que atire a primeira pedra quem nunca foi manipulado e deu crédito ao homem de fala bonita e de sentimentos entusiasmados. É realmente muito difícil fazer a leitura de comportamentos de sedutores profissionais na arte do engano, vorazes agentes de distorção da realidade em prol de seus objetivos egoístas que olham para o mundo como um universo de riqueza, poder e vaidade e para as pessoas como meio de obtê-los e maximizá-los.

A fidelidade aos próprios valores constrói uma reputação e, na trajetória profissional de sucesso que todos pretendemos fazer, existem atalhos e há pessoas prontas para oferecer caminhos alternativos àqueles que devem ser percorridos.

O único lugar que o dinheiro vem antes do trabalho é no dicionário. E na trajetória que todos buscamos sempre se apresentarão pessoas do boa fala, com promessas maravilhosas capazes de nos fazer sonhar e vibrar silenciosamente com as nossas fantasias que nos projetam para um futuro que parece ser tão certo quanto o sol que nascerá no dia seguinte.

Difícil é conhecer as intenções de cada um que se aproxima de nós, mas é necessário desenvolver a nossa experiência e sabedoria. Confiar nas pessoas é fundamental e não podemos nos fechar para o mundo porque tivemos uma decepção profissional. O que deve sustentar um profissional de sucesso é a fidelidade aos próprios valores e, ao invés de confiar cegamente ao contrato muito bem redigido, atentar, antes disso, a negociar com pessoas de valor.

Fernando Botto é consultor de negócios, escritor, docente e palestrante.

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