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sábado, 7 de fevereiro de 2009

A Nova Fase de Investimentos em Angola

Fernando Botto ,
*publicado no Jornal do Brasil em 26/01/2009


RIO - Em paz desde 2002, Angola intensificou a sua posição política internacional e avança a passos largos em busca da conquista da hegemonia africana. Antes conhecida como “a pérola da África”, Luanda encantava pela sua sedutora beleza litorânea e pelo ambiente agradável para se viver. No entanto, aquela não era a Angola dos angolanos, mas a mais próspera das colônias africanas de Portugal. A soberania foi conquistada em 1975, com a independência, mas a paz se efetivou apenas em 2002. Desde então, Angola passou a figurar entre os países com maior crescimento econômico do mundo.

Com uma produção que beira os 2 milhões de barris/dia, o petróleo permanece como grande financiador da reconstrução de Angola. Em 2006, o ouro negro representou cerca de 95% da receita de exportações angolanas, aproximadamente US$ 32 bi, dos quais quase 40% tiveram como destino os Estados Unidos. Outra grande economia, a China, tem Angola como segundo maior fornecedor de petróleo atualmente. O setor diamantífero correspondeu a 4,5% das exportações. Madeira, pesca e café sequer atingem 1%. Nos idos de 1973 e 74, Angola ocupou o posto de quarto maior produtor mundial de café, dado que serve de amostra do potencial agrícola do país.

Embora a balança comercial de Angola tenha acusado saldo positivo superior a US$ 22 bilhões em 2006, a vertiginosa queda do preço do petróleo no mercado internacional – de US$ 140 para menos de US$ 40 no segundo semestre de 2008 – deu uma amostra dos riscos de se depositar todos os ovos do desenvolvimento angolano na mesma cestinha. Apesar de que, hoje em dia, risco mesmo é ter dinheiro aplicado nas mais sólidas instituições financeiras do mundo.

Com reservas internacionais estimadas em US$ 11,2 bilhões e um PIB estimado de US$ 46,93 bilhões em 2007, Angola importa produtos de praticamente todos os setores. Em 2006, 17,1% das importações angolanas corresponderam a máquinas e motores; 9,5% a produtos metalúrgicos; 9,5% a automóveis e autopeças; 8,7% a materiais elétricos e eletroeletrônicos. O restante é relativo a alimentos, bebidas, móveis e outros produtos. De acordo com a Apex, o Brasil exportou US$ 514 milhões para Angola em 2005 e, no ano de 2006, o total atingiu US$ 836 milhões.

Segundo a Direção Nacional de Alfândegas de Angola, Portugal foi o principal fornecedor das importações angolanas (17,1%) em 2006, seguido de Estados Unidos (9,8%) e Brasil (8,6%). A participação do Brasil tem muito a crescer no mercado angolano, como tem ocorrido, mas prudência é fundamental. A mídia tem pintado uma imagem de Angola como a Serra Pelada do século 21, terra de oportunidades em que não há nada e tudo está por ser feito. Ledo engano. Esta aparente sensação de que “tudo dá certo em Angola” promove um fluxo de investimentos aleatórios que, muitas vezes, resulta em elevados prejuízos.

De olho na enxurrada de capitais até então canalizados com base no achismo dos investidores, o governo angolano criou um órgão especializado, a Agência Nacional para o Investimento Privado (Anip). Com o objetivo de promover condições propícias e apoios para o investimento doméstico e estrangeiro, a Agência tem realizado pesquisas de mercado para orientar os investidores, bem como promovido apoio e alianças entre eles. Recentemente, a nova pauta aduaneira estabeleceu alíquota zero para importação de mercadorias que se inserem em projetos de investimento privado.

Pelo lado brasileiro, a Apex realizou um estudo que se estendeu entre 2004 e 2006, cujo resultado apontou para oportunidades de exportação do Brasil para Angola nos setores de alimentos, bebidas, agronegócios, cosméticos e higiene pessoal; móveis, cortiças, cerâmicos, produtos metalúrgicos, tintas e vidro, dentre outros.

Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Apesar da proximidade cultural, da língua portuguesa, dos incentivos, da empatia com o povo brasileiro e da abundância de recursos financeiros e naturais, esses elementos devem ser analisados no contexto de um dos países mais caros do mundo para se viver, aliado a riscos e imprevistos diversos que fazem parte do cotidiano angolano. Aliás, para investidores que são avessos a correr riscos, a sugestão é optar por papéis das mais sólidas e confiáveis instituições financeiras do mundo. Será?


* advogado, educador, especialista em negócios internacionais e consultor de negócios entre Brasil e Angola

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