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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Restaurant Week ou Bandejón Week?

Nesses primeiros dias de Restaurant Week em Curitiba tomei uma atitude diferente e resolvi dar um golpe na fidelidade, gastronomicamente falando, claro. Assim como muitos apreciadores da arte na culinária - que começam a degustar um prato com os olhos e narizes, eu também considero como complemento a uma refeição saborosa a estética do prato, a harmonização do ambiente e o atendimento compatível a isso tudo.

O Restaurant week materializa uma ideia genial ao oportunizar aos clientes pratos bem elaborados, com entrada e sobremesa a um preço fixo atraente em variadas opções de estabelecimentos. Sem dúvida, isso provoca o desejo de conhecer novos restaurantes e aliás, diga-se com orgulho, a Curitiba gastronômica está melhor a cada ano.

Ocorre que nem todos os restaurantes estão percebendo esta iniciativa como uma valiosa oportunidade de cativar novos clientes. Há casos curiosos, de participantes que entenderam muito mal os objetivos desta iniciativa e pecam profundamente tanto no atendimento quanto no capricho tradicional da montagem dos pratos sofisticados.

Alguns estabelecimentos parecem ter dado a seus funcionários um treinamento de “semana do bandejão”, em que haverá uma invasão de clientes carentes que deverão ser atendidos por eles como um gesto de solidariedade para com a classe média, que raramente frequenta tais ambientes. Outros, armam verdadeiras ratoeiras. Num deles, supostamente para colorir um pouco mais o cardápio, colocou, de maneira sub-reptícia, um pratinho de couvert que acresceu na conta quase o mesmo valor da refeição. Mas o campeão foi aquele que teve a audácia de servir uma água mineral, supostamente trazida de uma gruta sagrada muito distante, por um preço tão exótico quanto a origem, digna de sair do cardápio de bebidas e de ser promovida para a carta de vinhos.

Tais situações, embora reais, não tiram todo o brilho de iniciativas dessa natureza. O Restaurant Week está me proporcionando conhecer melhor restaurantes que sempre tive curiosidade de experimentar e que voltarei com certeza e outros, que apesar de terem águas minerais muito boas, não fazem o meu estilo.

Fernando Botto é escritor curitibano.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Você ainda acredita nos testes de QI?

Há poucas décadas, os testes de QI eram amplamente aplicados e os resultados criavam distinções métricas entre pessoas mais e menos inteligentes.

O tempo passou e muitas pessoas atestadas como inteligentíssimas pelos testes de QI ao longo da vida não conseguiram transformar a sua inteligência em nada significativo, nem para elas mesmas, nem para os vigilantes e cruéis olhos da sociedade.

Ao contrário do que se esperava, pessoas que faziam seiscentos risquinhos perfeitos por minuto e resolviam desafios matemáticos complexos mascando chicletes e ouvindo música foram, com o tempo, superados por pessoas que não ficaram nos vinte e cinco risquinhos e que jamais resolveram sequer um desafio matemático infantil.

É, aquele sujeito desengonçado e de baixo QI, tido como ignorante na classe, lento e meio abobado, anos mais tarde se torna um habilidoso e rico comerciante, feliz e que ri à toa. Enquanto isso, o "número um" daquela turma, que supostamente estaria em situação muito melhor, sofre para pagar as prestações do carro, possui um casamento infeliz e está desgostoso com o trabalho que faz. Quem é o mais inteligente?

Algo de errado havia naquela medição de QI, certo? Não há dúvidas que aqueles testes subestimavam a complexidade da inteligência. É claro que o potencial medido naqueles testes teve a sua importância e finalidade, mas felizmente o enfoque sobre a inteligência mudou. O amor incondicional à lógica matemática e a marcante influência de Descartes davam uma consistente base para que pessoas dotadas dessa inteligência fossem vistas como inteligentes e veneradas.

Para a sorte do restante da humanidade que não foi o número um da sua classe, Howard Gardner criou a teoria das inteligências múltiplas, o que nos ajudou a compreender que podemos ser burros em matemática, mas sermos inteligentes em outra coisa, como por exemplo, com o corpo. Em outras palavras, o mau aluno em matemática pode se tornar um excepcional jogador de futebol, músico, jornalista, publicitário ou inventor.

As dimensões da inteligência propostas por Gardner nos ajudam não apenas a encontrar que tipo de inteligências com as quais me identifico mais, mas também me proporcionaram compreender que posso ser bom em alguma coisa e iniciar uma jornada em busca dessa descoberta.

A questão suscita o debate de um milenar questionamento existencial: "Afinal, o que é a inteligência?". De uma maneira simples, mas não simplista, percebo a inteligência como uma capacidade de aprender a ser feliz dentro das próprias limitações. A aprendizagem para tanto requer experimentação, tentativa e erro, disciplina, prazer, dor e sofrimento, angústia, ganhos, perdas e tudo aquilo que nos define como humanos.

Seria possível nos tornarmos inteligentes, então? Penso que não. Por uma simples razão: não nos tornamos inteligentes porque somos inteligentes. Temos dentro de nós uma inteligência para cada situação da vida e, ao longo do percurso, algumas são reprimidas e não se desenvolvem. Outras, são estimuladas e crescem. Por isso que um ambiente acolhedor, que permita este desenvolvimento, bem como a compreensão das nossas limitações contribui para que aprendamos a ser pessoas mais inteligentes ou, como costumo dizer, mais felizes.

*Fernando Botto é escritor.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tempo livre para afiar o machado

Onde encontrar tempo para afiar o machado? Afiando o seu machado. Quando um lenhador afia o seu machado, executa melhor o seu ofício, o que significa mais qualidade, melhor precisão e tudo isso em menos tempo, porque a prática bem feita leva a resultados que ousamos chamar de perfeição.

Metodologia é fundamental por isso. Porque apenas uma prática bem feita pode levar a resultados dignos de se aproximar da perfeição. E é por isso que a mera experiência sem consciência pode representar, em alguns casos, em uma prática imperfeita, improdutiva e dispendiosa - fruto dessa experiência.

Certa vez, presenciei uma cena inusitada: o sujeito se recusava a aprender uma nova maneira de fazer algo no trabalho. E a justificativa dele era "eu faço isso dessa maneira há vinte anos e não é você, com vinte dias de empresa, que vai me ensinar a fazer o meu serviço." O colega, que adorava um conflito, devolveu na mesma moeda: "Respeito a sua experiência, afinal, o senhor está há vinte anos fazendo a coisa do jeito errado e eu sou apenas um iniciante fazendo do jeito certo."

O uso cego de qualquer metodologia pode inibir a criatividade e a inovação. É provável que poucas metodologias - quiçá nenhuma - possam ser consideradas como perfeitas e acabadas. Por isso, aprender a afiar o machado é um desafio para quem é cheio de vontade a ponto de deixar a ansiedade tomar as rédeas do comportamento e age sem pensar. Obtém produtividade e resultados com base na intensa energia empregada a obtê-los. Atinge metas extraordinárias, mas se permitisse que a sabedoria do lenhador lhe ensinasse, talvez obtivesse os mesmos resultados com menos esforço e lhe sobraria assim, algum tempo para refletir se o método não pode ser aperfeiçoado.

Fazer o que eu já sei fazer é fácil. Difícil é ampliar esse limite. Tenho que estar disposto a lidar com as minhas limitações, a me lançar a experiências novas, o que muitas vezes me aterroriza. Posso me frustrar, me magoar e pior do que isso, posso chegar ao ponto de me castigar por ter errado ou por não ter sido mais uma vez perfeito. E esse é o custo de ousar transpor os nossos limites.

Mas apenas transpondo esses limites com a condição de aceitar os próprios erros e de perdoar a si mesmo por não ser perfeito podemos evoluir. Assim, estaremos prontos para derrubar uma floresta, afiar o machado para o dia seguinte e, quando sobra tempo, podemos escrever esta experiência para compartilhar com quem se interessa por isso. É preciso tempo para assimilar as nossas experiências.

O texto termina aqui, mas escrevi uma frase para sintetizar isso tudo. Coloquei no Twitter e fui ajustando para o limite dos 140 caracteres. O desafio, na prática, era enxugar a frase para que ela se adequasse à limitação do site sem perder o seu sentido original. A inspiração do tema partiu de uma frase de Abraham Lincoln, que dizia que se tivesse oito horas para derrubar uma árvore, passaria quatro afiando o seu machado.

As fases da lapidação:

Um lenhador afia o seu machado para cumprir a sua tarefa com menos esforço. Assim, faz o que precisa ser feito em menos tempo e aproveita o restante para afiar o machado para o dia seguinte. (-52 caracteres - frase criada livremente)

1) Um lenhador afia o seu machado e cumpre a sua tarefa com menos esforço. Faz o que precisa ser feito em menos tempo e aproveita o restante para afiar o machado para o dia seguinte. (-40 caracteres - a frase começou a ser enxugada)

2) Um lenhador afia o seu machado e cumpre a sua tarefa com menos esforço. Conclui seu trabalho em menos tempo e, com a sobra, afia o machado para o dia seguinte (-18 caracteres - nessa hora parece que não é mais possível reduzir o texto sem perder informações)

3) Um lenhador que afia o seu machado cumpre a sua tarefa mais cedo, com menos esforço e melhor resultado. E no tempo livre, afia o seu machado. (-1 caractere - só falta um!)

4) Um lenhador que afia o seu machado cumpre a sua tarefa mais cedo, com menos esforço e melhor resultado. E no tempo livre, afia o seu machado (140 caracteres. Missão cumprida e ponto final).

O resultado final:

Um lenhador que afia o seu machado cumpre a sua tarefa mais cedo, com menos esforço e melhor resultado. E no tempo livre, afia o seu machado
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