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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Amor de mãe



Foto por Fernando Botto, Luanda, Angola 2010.

Uma das histórias mais belas que presenciei em Angola foi há alguns anos, quando recebi uma psicóloga brasileira que faria algumas conferências em Luanda.

Como todos os hóspedes que conhecem a África, a professora ficou encantada com todas aquelas cenas de ruas tipicamente africanas: zungueiras, trajes coloridos, mães que carregavam seus bebês nas costas, artesanatos formidáveis e aquela multidão em toda parte. Aliás, é praticamente impossível não comprar algumas lembrancinhas sejam de madeira entalhada, quadros ou panos estampados.

No caso da professora, os panos estampados se tornaram uma obsessão. Entre um deslocamento e outro pela cidade, ela monitorava as ruas e calçadas em busca de uma vendedora ambulante dos tais panos. Para nosso alívio, no dia anterior à viagem de retorno dela ao Brasil, encontramos uma zungueira que carregava umas vinte e cinco variedades de de tecidos na cabeça. Sem tempo nem espaço para estacionar o carro, fizemos o convite para a vendedora apanhar uma carona enquanto fazia as suas vendas à faminta cliente. Eu, do banco da frente, acompanhava a negociação.

Ao observar com mais cuidado, percebi que a zungueira estava um pouco encurvada. Disse a ela para se acomodar melhor, para fazer a venda mais confortavelmente, afinal, a professora tinha muitas encomendas para a filha, para as irmãs, para as vizinhas, para as comadres e, se sobrasse algum espaço nas malas, para ela também.

A ambulante virou de lado, lentamente, desamarrou um pano cujo nó estava em cima do umbigo e, aos poucos, foi trazendo de trás do seu corpo um pequenino recém-nascido, para a surpresa de todos. A professora, uma pessoa de extrema sensibilidade, se emocionou e perguntou quantos anos tinha a mamãe, de feições muito jovens. A zungueira, com um sorriso meigo, disse que tinha dezenove anos.

Foi uma identificação instantânea. A professora tinha uma história muito parecida com a da zungueira, pois também havia se tornado mãe aos dezenove anos, e disse a ela que sabia pelo que ela estava passando, o quanto era difícil ser mãe aos dezenove anos, quanto sacrifício deveria ser para ela ter se tornado mãe com apenas dezenove anos e ter tanta responsabilidade tão cedo na vida. "Não é mesmo difícil ser mãe aos dezenove anos? " - perguntou a professora.

A menina, olhando para o filho com um profundo afeto, respondeu carinhosamente:
- Não. Ser mãe é lindo.

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