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quarta-feira, 16 de julho de 2008

A política especulativa do BC


Publicado no Jornal Gazeta do Povo em 14/07/2008 | Fernando Botto


Imagine como seria um programa O Aprendiz com os presidentes dos países da América do Sul? O Lula seria finalista, a modelo iria posar nua e o Chávez seria desclassificado por não ler o dossiê que continha as regras do jogo.


O governo federal resolveu ir ao cinema. Chegou atrasado e esbaforido. Sentou-se e passou a assistir ao trailer do filme intitulado "A volta do fantasma da inflação". Passaram-se dois, três, cinco, dez minutos, uma hora até que, finalmente, o astuto e atento governo notou que não se tratava de um trailer, mas do próprio filme de terror que há muito tempo havia começado.

A inflação não "despertou" de um sono profundo, como tem sido pulverizado na mídia nacional. Pelo contrário: ela foi cuidadosamente cultivada em condições ótimas de desenvolvimento. Por isso retorna, em elegante desfile na passarela dos derivados de trigo, soja e pecuária. O governo até tentou maquiá-la, mas agora nem mesmo o reboco do pedreiro dará conta do que está por vir. Não há mais saída: os governantes terão de fazer o que mais temiam: governar.

Primeira medida: achar um culpado. Nem que seja o caseiro, até porque o mordomo já está batido. A culpa caiu no mercado internacional, que "elevou" o preço dos produtos alimentares impactando fortemente no cálculo da inflação canarinha. Em retaliação à realidade, o Bacen eleva a taxa Selic como medida para combater os efeitos internos do aumento do preço do alimento no mercado mundial. Isso lembra o esforço do beija-flor que voava ao rio para buscar água e apagar o incêndio na floresta. A intenção não era apagar o incêndio, mas inspirar seguidores.

No caso, se Lula fosse um beija-flor tentando conter os efeitos do mercado internacional, conseguiria no máximo o apoio de alguns insetos e seres semi-invisíveis, líderes de economias andarilhas. Imagine como seria um programa O Aprendiz com os presidentes dos países da América do Sul? O Lula seria finalista, a modelo iria posar nua e o Chávez seria desclassificado por não ler o dossiê que continha as regras do jogo.

Nós, brasileiros criativos e competentes, não somos capazes dar outra resposta à inflação a não ser elevar a Selic? Produzir mais alimentos não forçaria a queda de preços? Revisar alíquotas de importações, incentivar o consumo de produtos substitutos ou fazer uma reforma tributária pelo jeito dá muito trabalho. O governo prefere ver R$ 10 de juros no bolso do banqueiro a ver R$ 2 de financiamento no bolso de um produtor brasileiro.

As artérias do crescimento estão entupidas e as taxas de colesterol dolarizado no país sobem. Os exportadores sofrem. A classe média quebra os cofrinhos, compra dólar e faz a alegria do Mickey e do Pateta. E agora, Meirelles? Creio que ele daria duas opções: 0,25 ou 0,50. Para qualquer doença, uma aspirina a cada quatro horas. Assim foram tratados os sinais da inflação brasileira nesses últimos anos. E vamos brindando o grau de "especulamento"!

Apesar do governo, a competente iniciativa privada brasileira faz o país crescer. Aumentar a Selic seria perfeito, se não fosse o Brasil campeão mundial de taxa básica de juros. O fato equivale a levar um obeso que deseja emagrecer a um café colonial e tentar convencê-lo de que, para quem já está tão acima do peso, algumas coxinhas e empadinhas não farão muita diferença. A explicação, óbvia e ululante, poderia ser dada pelo doutor Meirelles: não se preocupe, seu peso aumentará, no máximo, 0,25 ou 0,5 ponto porcentual.


Fernando Botto é mestre em Educação e especialista em negócios internacionais.

Disponível em http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=786589&tit=A-politica-especulativa-do-BC

2 comentários:

Anônimo disse...

Até quando os juros vão subir? Realmente, o nosso governo engorda a conta bancária dos banqueiros que estão a cada dia mais felizes. Os bancos são as empresas mais lucrativas do Brasil, pois levam para o exterior toda a riqueza que deveria ser investida aqui dentro, em financiamentos voltados às empresas e à agropecuária.

Anônimo disse...

Adorei o artigo!

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